quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Menina e o "Fantasma"

A menina sentada escuta como que batidas levemente no vidro de sua janela. Abre, são somente galhos de uma velha arvore, um calafrio passa por suas costas e fechando a janela sobe o reflexo do vidro avista um rapaz, pálido, mas como que realizado em a ver, esse rapaz? Eu!
A menina hesita, ela pára de tremer por um instante. Seria um vulto? Um presságio maligno a circundar-lhe a vida? Haveria de ser a morte lá fora a sua espera? Ela não sabe. A indecisão apodera-se da fronte aflita. Um peso nas pernas parece mantê-la fixa na cadeira na qual esta reclinava, a ler um romance velho. Lutando contra o entorpecimento do pânico, ainda assim, levanta-se.
O ambiente outrora tranqüilo se torna pesado e misterioso. A cada passo hesitante em direção ao rapaz era uma badalada do sino de sua própria morte? A face do rapaz é serena, mas tudo que a menina consegue enxergar é uma face distorcida, algo amendontrador e irônico. Seus pensamentos viajam e voltam para esse fato em segundos. Ela se lembra da angustia de ir ao enterro de seu próprio noivo, prometido de casamento, a luz de velas não permitem que ela olhe com mais perfeição seu rosto, mas seus sentidos, seu amor a diz que é ele. O rapaz então se dissipa e reaparece no corredor onde dava sempre na sala.
Quem és tu? Ela não falara. Sua voz permanecia trancada nas paredes de seu peito, apertado. A mão crispada apertou a garganta como se pudera extrair com a pressão o som de sua própria voz. As cortinas da janela subitamente agitaram-se, como se um redemoinho de vento estivesse prestes a adentrar a alcova. Ninguém a ouviria. A essa hora todos dormiam. Os criados, na cocheira, muitos distantes da casa. Era só ela e aquele rosto.
Ela então ouve sussurros, são sussurros dentro de sua alma, ela ouve risadas, ouve lamentos, mas ouve risadas. O rapaz não permite que ela chegue muito perto, no entanto olha para ela fixamente como se olha para uma obra de arte que se foi perdida. A intensidade de sua curiosidade não lhe permite ficar parada, ela se achega mais perto e o rapaz desaparece e reaparece mais um bocado de distancia como que conduzindo ela. Onde será que ele a levará? Será uma armadilha? Algo que o mal planejou essa noite para ela? O rapaz continua parado, olhando, seu olhar é assustador, mas ao mesmo tempo totalmente bem-vindo, é inefável a sensação de sua alma.
Estava à sua espera. Era evidente. Seus passos pesados a levam para perto daquela visagem. O vestido branco que usara para recolher-se se agita na brisa do corredor como uma rajada de bruma leve a acompanhando. E o espectro, a sumir e a reaparecer no corredor, chamando-a como se fosse música atraindo sua alma. Suas mãos deslizam na parede de pedras, e ainda que corresse numa ânsia de tocar-lhe e saber se era real, não conseguia.
Era um momento confuso e assustador, no entando sua alma parecia saber exatamente o que estava ocorrendo. Em segundos quando suas pálpebras nem se fecham totalmente o rapaz como um relâmpago se coloca na sua frente na distancia de um beijo, a menina cai no chão assustada e fica dividida em seus pensamentos. Quem será ele? Retoma suas forças e corajosamente toma seu vestido e sai quarto a fora, o rapaz então vai aparecendo e reaparecendo, conduzindo ela até o pátio de sua casa. Estava frio e o vento era a única testemunha dessa acontecido. Então, o rapaz olha para cima como se algo estivesse vindo, a menina percebendo o desvio de seu olhar também levanta os olhos para ver o que o rapaz estava visualizando. Era o vento trazendo um pedaço de papel. Ele então olha novamente para ela e pela primeira vez mostra um sorriso. O papel chega diretamente em suas mãos como se o vento tivesse vida própria, ela se assusta quando lê o que nele estava escrito, como se não pudera acreditar, era um fragmento da bíblia: "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura" Cantares 8:6
Ele sumira. Perdera-o mais uma vez. Ainda estava longe do calor da aurora. Temia não vê-lo. Talvez com o romper do dia, jamais teria tal sorte novamente. Tinha de segui-lo. No afã da incerteza, como algo resgatado no fundo de sua memória, fora tomada pela coragem. Àquela hora cruzou o pátio, a buscar o cavalo que o amado usara. O andaluz negro parecia agitado, furioso a debater-se nas rédeas.
Estava certa de que o animal pressentia. Seria capaz de levá-la ao encontro dele?
Até um ponto da estrada ela estava conduzindo o animal perfeitamente, mas, num momento ela começou a perceber que o animal estava rápido e não respondia mais suas ordens, ela começa a chorar, suas mãos estão suando frio, sua boca está seca. O cavalo do seu amado parece estar correndo com saudade do próprio dono e aparentemente esquece-se da donzela sem experiência para cavalgar, apenas 17 anos tinha a menina, o animal pega uma estrada que leva somente a um lugar, o cemitério! Chegando lá, o cavalo volta a si, como se antes estivesse possuído por alguma força. Ela adentra o cemitério e vê a tumba de seu noivo. A lapide estava rachada, ela olha para a lapide, olha o cemitério todo e ajoelhada chora a falta de seu amado. Ela então observa o rapaz adentrando a própria terra, era seu amado? Ela então começa a cavar chegando até seu caixão. Estava lá seu amado, de olhos abertos, de volta da morte, pois o amor o trouxe de volta.
Eles então olham para a lapide rachada e lá está escrito o mesmo versículo trazido no papel pelo vendo: "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura"


Nenhum comentário:

Postar um comentário